Por Vanessa Lampert
A novela
Gênesis está fantástica e tenho muitas coisas a comentar sobre ela, mas
uma das coisas que mais me tem levado a meditar é o que sempre me chama
atenção quando leio histórias sobre dinastias ou sobre personagens de
determinados períodos históricos: como as vidas passam depressa.
Sempre
que a novela passa de uma fase para outra ou tem um salto temporal, tem
alguém para reclamar do quanto passou rápido. Mas a vida é assim, caro
colega. Se você tem menos de 30 anos, talvez ainda não tenha tido noção
exata dessas coisas, mas já aviso: a velocidade às vezes parece
avassaladora.
Um
dia somos crianças, no outro já somos adultos. Somos adolescentes em um
dia e no outro fazemos 40 anos. Muito, muito rápido. O pior é que, por
dentro, pouco realmente muda. Mudamos nosso modo de pensar e de agir se
nos aplicamos a isso, mas aquela sensação de ser realmente adulto, acho
que o ser humano só alcançava em torno dos 500 anos, lá na era
pré-diluviana. Hoje, ninguém vira adulto de verdade. O mundo é formado
por crianças de todas as idades, todo mundo convencido de saber como a
vida funciona, mas sem saber como funciona, de fato. A maioria vagando
pela Terra sem um manual de sobrevivência, sendo soprado pelo tempo e
acabando tão rápido.
Talvez
por ter começado a ficar doente em 2006, eu tenho a nítida sensação de
ter ido dormir aos 25 e acordado ontem. Todos os dias eu acordo ontem.
Tudo tem sempre um tom de novidade e de estranhamento, porque eu me
lembro de como as coisas eram em 2005 e acho que está todo mundo doido
em 2021. Tenho sensação parecida quando leio um diário de época e parece
que vivi o período histórico que a pessoa relata. Comparo com o que
vivemos hoje e o mundo faz cada vez menos sentido.
Mas
o mundo faz pouco sentido mesmo. Porque ele é uma ilusão, por isso a
impressão de que as coisas estão fora do lugar. Lembro de ter assistido a
um filme cristão chamado “Like arrows”, que foi excelente, mas me
deixou muito agoniada. Ele conta a história de um casal e seus filhos, e
o tempo vai passando de um modo que nos parece, ao mesmo tempo,
familiar e acelerado. O casal cresce, amadurece e envelhece diante dos
nossos olhos. As crianças, também. Dá um certo desespero perceber
aquelas vidas passando e notar que nossa vida também está passando, em
ritmo talvez um pouco mais lento, mas só um pouco. E percebemos que o
tempo é curto demais para perder com bobagens, o tempo é curto demais
para desistir.
Desistir
não faz sentido quando tudo é tão raro. Quando a gente percebe que as
coisas talvez sejam diferentes do que se mostram para nós. Quando
percebemos que existe algo além, outra forma de ver as coisas, uma
realidade diferente, que poucos encontram e que temos tão pouco tempo
para descobrir e viver neste mundo. E que pode nos dar condições de
conhecer algo muito melhor e maior além deste tempo.
Sobre
isso, Moisés escreveu, no texto registrado no Salmo 90: “passamos nossa
vida como um conto que se conta”. Ele provavelmente já estava por volta
dos 80 anos, exausto pelas exigências do povo no deserto e pelas
provocações que faziam contra Deus. De repente, tudo parecia dar errado,
e o homem que a Bíblia diz ter vivido até os 120 anos sem perder o
vigor (a ponto de subir uma montanha sem dificuldade poucos minutos
antes de sua morte), escreveu que chegar aos 80 era canseira e enfado.
Mergulhado naquela situação extenuante, Moisés se consolava no fato de
que tudo passa. O salmo 90 começa com uma declaração de que nossa única
proteção contra a inexorável passagem do tempo é se esconder nAquele que
está acima do tempo:
“Senhor,
tu tens sido o nosso refúgio de geração em geração. Antes que os montes
nascessem, ou que tu formasses a terra e o mundo, mesmo de eternidade a
eternidade, tu és Deus.”
Depois
mostra como o tempo, aos olhos de Deus, passa voando, como na novela.
Mil anos passando como o dia de ontem passou. Como a passagem das águas
de um rio, como uma erva que cresce e logo murcha, seca e cai, como se
nunca tivesse existido.
“Ensina-nos a contar nossos dias, de tal maneira que alcancemos corações sábios.”
Ou
seja, o único que pode nos ensinar a contar os nossos dias é Aquele que
é capaz de vê-los de fora do tempo. Só Ele tem a visão do todo, porque
só Ele tem a visão da eternidade. Aprender a contar nossos dias sob esse
ponto de vista pode nos fazer alcançar corações sábios. Não os corações
burros deste mundo, que ao constatar que a vida é curta, concluem:
“então vamos aproveitar e fazer tudo o que temos vontade”. Isso é
estupidez. Corações sábios levam em conta a eternidade e sabem que esta
curta vida não vale perder o acesso ao melhor que está por vir. Ainda
que no começo nem creia muito, pensa: “mas e se for verdade? Quem pode
garantir que não seja?”.
E
se a eternidade nos espera, como garantir que a vida eterna seja vivida
no melhor lugar possível, da melhor maneira possível? A que eu deveria
estar dedicando a minha vida, neste momento?
Uma
das coisas de que somos informados na Bíblia é que a Terra vai pegar
fogo. Literalmente. Em sua segunda carta, Pedro diz, basicamente, que
tudo vai queimar, a Terra, os astros, todo o universo vai se desfazer
muito antes do que todo mundo imagina. Ele pergunta, fazendo o leitor
pensar: diante dessa realidade, que tipo de pessoa convém ser, em
comportamento e santidade, aguardando com diligência pela vinda do dia
do Deus, em que tudo vai pegar fogo e se desfazer?
Colocar
as coisas em perspectiva. É o que sempre faço e o aconselho a fazer,
porque é o que Deus faz, do início ao fim da Bíblia. E, neste momento da
história que estamos vivendo, é importantíssimo se retirar dessa
loucura generalizada em que as pessoas estão mergulhadas, e enxergar
tudo de fora do tempo, com o olhar que Deus tem. O que realmente
importa? Para onde este mundo está caminhando, e por quê?
Espero
conseguir contribuir com essa reflexão nos próximos dias, mas já
adianto: tudo vai pegar fogo. Tudo, absolutamente tudo irá se desfazer. E
isso não deve trazer tristeza, mas sim esperança. Porque se tudo irá se
desfazer, o que é eterno? Nós. Eu, você, quem realmente somos, lá
dentro, lá no fundo. Por isso Pedro nos pergunta que pessoas nos convém
ser, diante de Deus, sabendo que o mundo vai pegar fogo e que tudo irá
se desfazer? Que tipo de vida nos convém ter? Com certeza nenhuma da
cartela que o mundo nos apresenta. E o discurso que eu tinha para fazer
aqui sobre este assunto, poucos estão preparados para ouvir.
“Mas
o dia do Senhor virá como o ladrão de noite; no qual os céus passarão
com grande estrondo, e os elementos, ardendo, se desfarão, e a terra, e
as obras que nela há, se queimarão. Havendo, pois, de perecer todas
estas coisas, que pessoas vos convém ser em santo trato, e piedade,
aguardando, e apressando-vos para a vinda do dia de Deus, em que os
céus, em fogo se desfarão, e os elementos, ardendo, se fundirão?”
2 Pedro 3.10-12
—
PS.
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Fonte: https://www.vanessalampert.com/como-um-conto-que-se-conta/