"Morre, aos 27 anos, a cantora britânica Amy Winehouse." Mais uma manchete trágica pra engrossar as fileiras de tantas outras: Jimi Hendrix, Janis Joplin, Jim Morrison, Elvis Presley, Michael Jackson... Apesar de ser algo que se podia esperar, é sempre chocante ouvir uma notícia desse tipo. Chocante porque o ser humano não foi criado pra ter um fim como esse. É algo que ninguém, que possua um mínimo de razão e de sensibilidade, consegue ver com pouco caso ou como algo natural. Mas vê, sim, com pesar e revolta.
Alguns devem lembrar de um artigo que minha cunhada escreveu em seu blog, em janeiro deste ano, e que postei aqui. Sem saber da iminente morte da artista, o texto de Vanessa foi como que um reforço e uma externalização do grito de socorro de Amy. Ontem, dia do falecimento, publicou um novo artigo que gostaria de compartilhar com vocês.
TRAGÉDIA ANUNCIADA
By Vanessa Lampert
Amy Winehouse morreu hoje, é o que dizem os jornais. Ainda espero uma notícia desmentindo essa informação, mas não sei se virá. Escrevi em janeiro o seguinte post: http://lampertop.com.br/?p=990 e após dias sem entrar no twitter, eu infelizmente estava por lá quando soube do ocorrido.
Saí rapidamente antes que excluísse uma multidão de meu twitter, pelos comentários imbecis e brincadeirinhas de mau gosto. Amy fez as piores escolhas possíveis em sua vida, mas não teve muito apoio para fazer escolhas melhores. Dava um certo desespero ver a imprensa fazer comentários cruéis e agressivos como se ela não fosse um ser humano e, por outro lado, o mesmo desespero ao vê-la ser reverenciada por músicas com letras que louvavam seu estilo de vida, como “Rehab”. Quando a mãe dela sugeriu que parassem de premiá-la, pois aquilo estava apenas reforçando o comportamento destrutivo, foi censurada e ridicularizada.
Sugaram até a última gota de sangue de Amy e agora deliciam-se com sua morte, como aves de rapina. Como fizeram com Michael Jackson, como fizeram com Elvis Presley, como fizeram com tantos outros ícones da música… Pessoas que deixam de ser pessoas, são pisoteadas pela mídia e pela crueldade humana em geral e depois de irem para o lixo, esse lixo é embalado em papel especial de glamour como se fosse sublime morrer por overdose, jogado em um canto qualquer da sala de jantar.
Fico triste pela extrema falta de amor ao próximo e pela hipocrisia alarmante que se expressa nesses momentos (a imprensa agora irá exaltá-la no mais alto grau, enquanto nos comentários as pessoas alternarão entre brincadeiras de mau gosto e retratos de crueldade). Prefiro desligar a internet e mergulhar no trabalho, que ganho mais. Mas não conseguiria deixar de desabafar aqui e de externar meu profundo pesar por essa menina ter morrido lentamente diante de nossos olhos durante anos e ninguém ter feito nada para evitar. As escolhas dela foram erradas, e as escolhas de todos os outros que estavam perto, que poderiam ter se esforçado, também.
A responsabilidade é dela, acima de tudo, por aceitar esse mal em sua vida sem lutar com todas as suas forças para se livrar dele. Mas também é de todas as outras pessoas que poderiam ter estendido a mão, poderiam ter pensado “dane-se o dinheiro que vamos perder, não podemos tirar a dignidade dela e fazer com que se afunde ainda mais”. Ela já estava melhor, havia engordado um pouco, conseguiu deixar as drogas, estava lutando para largar o álcool e parece que teve uma recaída fatal. Muitas pessoas conseguem largar sozinhas os vícios, mas infelizmente a maioria não tem essa força e vira escrava, literalmente.
Você realmente acha que alguém queira destruir sua vida, sua carreira e morrer de maneira estúpida? Você realmente acha que alguém escolheria isso para a sua vida ao invés de um futuro longo, cheio de alegria, saúde e realizações pessoais e profissionais? Ela poderia ter feito mais por si mesma, nós poderíamos estar fazendo mais por nós mesmos e pelos que estão à nossa volta, sofrendo, precisando de ajuda e sem ter forças para sair do buraco. No entanto, só o que sabemos fazer é criticar e apontar o dedo. E volto ao texto de janeiro http://lampertop.com.br/?p=990 "É por essas e outras que eu digo que se realmente houver vida inteligente fora da Terra, se for realmente inteligente, certamente mantém distância segura deste planeta."